sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Priorizar o autoconhecimento

Lama Gangchen Rinpoche nos aconselha a dedicar 50% do tempo de nossa vida para nosso desenvolvimento material, isto é, para o mundo externo, e 50% para o desenvolvimento espiritual - o autoconhecimento e o cultivo de nosso potencial interior. Ele ressalta que o ideal seria dedicarmos 100% para o espiritual, mas, devido às condições atuais de sobrevivência material, já tão difíceis, é um grande passo saber reconhecer e unir estes dois lados.

Rinpoche nos ensina que o segredo está em deixar de ver estes dois desenvolvimentos como processos distintos entre si. Afinal, mesmo que envolvam práticas diferentes, um influencia o outro. Ao ouvi-lo neste dia, refleti como as demandas externas prevalecem facilmente sobre as internas.

Ao priorizar o mundo externo em detrimento do interno, atropelamos nossas necessidades internas, pois sem tempo de nos interiorizarmos, deixamos de ver com clareza como e por que agimos numa determinada situação. Desta forma, nossas ações serão sempre reações, e, portanto, não serão escolhas. Aliás, se elas forem baseadas no medo, correrão mais risco de serem errôneas!

Por que será tão difícil priorizar o processo de interiorização? Por que temos a tendência a fazer um esforço extra para entrar em contato conosco mesmos?

Creio que, além do forte fato de não termos aprendido como fazê-lo, a introversão é vista por nossa sociedade como um sinal de isolamento e reclusão. Ela constantemente nos convoca a nos movermos em vez de de parar e nos observarmos. Dedicar-se ao autoconhecimento parece tão difícil quanto nadar contra a corrente!

É muito bom nos conhecermos. Eu diria mais, é um alívio! Conhecer-se não quer dizer ter uma atitude narcisista, isto é, dar uma maior importância a si mesmo, deixando de ser empático com os outros. Conhecer-se significa tornar-se responsável por suas próprias atitudes e direção de vida.

Tal percepção de nós mesmos é um processo constante, afinal, estamos sempre em transformação. Mas, como se conhecer?

Aqui vai uma dica: eleja um tema, algo sobre si mesmo que você percebe que precisa entender melhor. Os desafios diários são intermináveis. O autoconhecimento não pode diminuí-los. Nenhuma filosofia de vida é capaz de detê-los. Mas se não aprendermos a surfar nas ondas do medo estaremos sempre nos afogando. Creio que a forma de manter a cabeça fora d'água pode ser um ótimo tema!

Bel Cesar - terapeuta, dedica-se ao atendimento de pacientes que enfrentam o processo da morte. Autora dos livros Viagem Interior ao Tibete, Morrer não se improvisa, O livro das Emoções e Mania de sofrer (Ed. Gaia).

Um comentário:

Antonio Coni Neto disse...

Muito bom o seu texto.
Saudações,